domingo, 10 de janeiro de 2016

Gabriela Souza

 
Parte 4
 
Meu nome é Gabriela, tenho 22 anos. Atualmente sou uma das coordenadoras do Grupo Ágape. Creio que devem estar se perguntando o porquê de começar com a parte 4, onde estão as outras 3 partes? Onde está o início?
Quer saber? Não vale a pena. Pra chegar até aqui foram muitos obstáculos, tenho orgulho de ter ultrapassado todos eles, mas não quero recordá-los.
Grande culpa da minha salvação foi a existência do Grupo Ágape. Dou os créditos da outra parte a Deus.
Aos 15 anos entrei em depressão profunda. Ninguém da minha família conseguia entender. Queriam que eu simplesmente me erguesse, mas a depressão não é preguiça ou vagabundagem. Diria que começa com um conforto, algo que começa a te abraçar, mas se torna sufocante. A sua alma quer levantar, mas o seu corpo não obedece. Então você é obrigada a ceder. A alegria vai embora, junto com os momentos em família, amigos, namorados... As únicas coisas seguras e confortantes são o escuro e o silêncio.
As partes 1 a 3 desse imenso texto só há dor e sofrimento, lembro-me de uma parte que descrevo a minha vida como uma prisão e dentro de mim é um inferno. Podem adivinhar o que vem em seguida? A vontade de tirar a própria vida. Sim. É real. Realmente não há coragem, mas a vontade de acabar com tudo isso é maior do que qualquer medo.
Durante todo o tempo minha mãe procurava ajuda, recorremos até em outras religiões. Mas eu não queria ser ajudada. Até que um dia qualquer, eu e minha mãe fomos a uma igreja católica onde ela tinha a esperança de que o padre, em uma conversa, me ajudasse a superar.
No fim, o padre não interveio em quase nada, a não ser pelo fato de morar na igreja. Eu me sentei nos primeiros bancos da igreja e por um longo tempo observei a imagem de um homem no altar. Era o Ressuscitado. Ressurreição significa vida nova. Eu precisava disso. De um novo caminho.
Não é preciso ter uma religião para se acreditar em um caminho melhor pra você mesmo. Sim, eu sou católica, mas Deus não tem religião. A religião é dos homens, e homens são falhos. Mas a fé é um dom de Deus, algo divino e perfeito. É só preciso praticar para que ela cresça cada vez mais dentro de nós.
Naquele momento, eu tive fé. Fé em mim mesma.
Durante a semana que sucedeu, conversei com uma amiga sobre um antigo projeto que tive em mente a anos atrás. Algo sobre ajudar pessoas carentes, levar um pouco de amor a quem nunca sentiu ou esqueceu.
Ela gostou do projeto. Desenvolvemos e decidimos chamá-lo de Ágape, porque significa amor incondicional, algo puro, como a nossa fé.
A partir daquele momento, começamos a divulgar e a convidar pessoas. Pude me reaproximar da minha irmã e de amigos.
O Ágape foi ganhando identidade. E eu pude me redescobrir. A depressão não foi embora de uma hora pra outra, foram três anos de recuperação parcial, ainda tenho momentos de fraqueza, mas hoje sei que tenho muitos que me apoiam. Então eu coloco um sorriso no rosto e vou viver a vida.
Hoje, o grupo Ágape trabalha para ver rostos diferentes sorrir. Fazemos teatro amador, arrecadamos doações para ajudar as instituições carentes. Durante as visitas brincamos, dançamos, cantamos. Tudo para levar um pouquinho do nosso amor aos que precisam.
Mas a maior transformação está dentro do grupo. Todos nós temos algo a superar, melhorar ou a aprender. Quando nos tornamos membros, nos tornamos parte de uma família. Uma família que ajuda seu novo filho a passar pelos obstáculos recebendo apoio e carinho.
Aqui no Ágape cabe todo sentimento bom, todas as formas, todas as raças, todos os sexos, todas as modas, todos gêneros. Cabe exatamente tudo, porque praticamos e realizamos tudo com amor. Esse é o grande segredo e essência. Só podemos dar algo às pessoas, quando já existe em nós.
O Ágape sempre vai ser o aconchego de nossas carências, o remédio de nossas feridas e o caminho para a felicidade!
 
Doar-se é a maior Arte da Vida!

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